Natural de Teresina (PI), Safira, em sua juventude, começou como colunista social. Multifacetada é, também, graduada em Artes Cênicas, Jornalismo e Recursos Humanos. Desenvolve atividades ligadas a arte, cultura, área social e na gestão pública. Dona de uma reconhecida e rica trajetória, um histórico de vida com dignidade, militância e glamour!
Veio ao Rio de janeiro na década de 70, onde iniciou sua carreira artística. Logo na chegada, foi expulsa da casa de uma parente, esteve em condição de rua, sendo que Alcione (a cantora) a ajudava com alimentos. Dormia onde hoje é o Sambódromo, e nas escadarias do Teatro João Caetano. Eram frequentes os passeios na Cinelândia, pois amava ver as artistas travestis da época. Seu maior ícone era Rogeria! Enveredou pelos caminhos da arte como a primeira cover de Maria Alcina (usava o nome artístico de “Maria Alcina”). Logo mudou seu nome para Safira Bengell. Participou do primeiro quadro Eles e Elas, no Clube do Bolinha, e no Show de Calouros, do Sílvio Santos. Trabalhou nos palcos das melhores casas noturnas da Praça Mauá. Trabalhou no Teatro Rival, Brigite Blair, Casanova, Bolero na Avenida Atlântica e em inúmeras casas de espetáculos na cidade maravilhosa e São Paulo. Viajou pelo Brasil como mambembe e em produções teatrais como Gay Fantasy (direção de Bibi Ferreira).
Nesta época da ditadura (os “anos de chumbo”), as artistas mulheres, vedetes do “teatro de revista”, foram proibidas de atuarem nos palcos. As artistas transformistas/travestis preencheram essa lacuna com coragem e resistência. Em reconhecimento do trabalho das famosas travestis e de outras artistas da época, foi criado o primeiro Troféu Safira, no Teatro de Bolso, em São Paulo.
La Bengell é uma das mais representativas ativistas da Diversidade Cultural em nosso país e no exteriori onde também fez uma brilhante carreira nos teatros, TVs e cinema, chegando a trabalhar ao lado de Christian de Sica, Michelle Plácido e Leo Gulota, com quem apresentou o Gay Pride Jubileu 2000, em Roma, e na Tv com Iva Zanichi, Alberto Cartanha, Máximo Gillete. Participou em desfiles de modas como o da renomada estilista Chiara Boni; foi convidada das festas na Maison de D&G, seus amigos em Milão. Nesta cidade, era sócia proprietária da famosa casa de shows de transformistas American Disaster e pelo sucesso, chegou a ganhar o prêmio de “Rainha da Noite”, concedida pela importante Revista Vip. Também fez trabalhos com os conceituados fotógrafos italianos como Sérgio Caminata e Carlos Lavatori. Em 2008, retornou ao Brasil e trabalhou como apresentadora na TV Band, em Teresina/Piauí, cidade na qual escolheu viver tranquilamente cuidando de seus projetos culturais e outros empreendimentos. Foi a primeira artista transformista nordestina a conquistar um lugar de destaque glamouroso no cenário artístico nacional e internacional.
Safira Bengell detém o título de Comendadora, pois recebeu a medalha do Mérito Renascença - a mais alta comenda concedida pelo Governo do Estado do Piauí pelo seu ativismo cultural e ações humanitárias. Lutadora, criou jurisprudência na justiça do Piauí e foi a primeira no Brasil a ter o direito de poder modificar o prenome e usar o nome artístico nos documentos sem ter feito a transgenitalização. Atualmente é um direito gratuito para todas as pessoas. Foi a primeira travesti Coordenadora de Casas de Cultura de um Estado brasileiro e uma das articuladoras da criação do Comitê Técnico de Cultura LGBT do MinC, sendo a primeira artista travesti a ter assento como sociedade civil neste comitê.
Atualmente, ela é a responsável pela criação e produção do musical LES GIRLS FOREVER (já apresentado em várias cidades brasileiras). Espetáculo que reverencia o primeiro grande show de travestis no Brasil, “Les Girls”. Safira participou do último show (produção de Jerry di Marco e participação de Wilza Carla). E este estilo de show com luxo e glamour é a tônica do espetáculo.
A história de vida de uma pessoa que representa um marco de resistência na cultura brasileira e Safira segue salvaguardando a memória artística, histórica e tradicional de uma época, que por ser referência, ainda pulsa nos dias atuais. Atualmente La Bengell apresenta um programa semanal no Youtube, Arteculando by Safira Bengell, onde entrevista personalidades de diferentes vertentes da sociedade.
“Ser chique é ter simplicidade, respeito, humildade e fazer o bem ao próximo.
Fico feliz com o sucesso alheio” – Safira Bengell
Este é um resumo da história de superação desta artista guerreira que sempre fez da arte sua ferramenta de combate contra a discriminação e o preconceito, sempre em busca de ações em prol do coletivo.
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