23/07/2024 às 22h55min - Atualizada em 26/07/2024 às 00h02min

Violência doméstica no Brasil: quando vamos combater essa guerra?

“Sem apoio e informação, mulheres ficam vulneráveis e sujeitas à violência de gênero em todo país”

Karina Pinto
Karina Pinto - Assessora de imprensa
Imagem de Freepik

A violência que afeta milhares de mulheres todos os anos no Brasil, causando cicatrizes profundas e, muitas vezes levando a consequências trágicas, já é um assunto que precisa ser tratado com a urgência e seriedade de uma pandemia. Em média, um feminicídio é registrado a cada seis horas no país, e nem mesmo as medidas protetivas estão conseguindo pôr um freio nessa matança. 

De acordo com o Anuário da Segurança Pública 2024, em todo o país, houve aumento nos casos de violência contra a mulher. Os registros de agressões em decorrência da violência doméstica cresceram 9,8%, ameaças, 16,5%, violência psicológica, 33,85%, tentativa de homicídios contra mulheres, 9,2%, tentativa de feminicídio, 7,1%, feminicídios, 0,8%, medidas protetivas de urgência concedidas, 26,7%. 

As estatísticas mostram que 90% dos casos de violência e violência extrema contra mulheres no país, foram praticados por homens: 63,6% das vítimas são negras, 71,1% têm entre 18 e 44 anos e 64,3% delas foram mortas dentro de casa. 

“A escuta qualificada é crucial no enfrentamento dessa realidade. É uma abordagem empática e profissional que visa compreender e validar a experiência da vítima, oferecendo um espaço seguro para compartilhar suas vivências sem julgamentos ou interrupções. Isso ajuda a vítima a se sentir acolhida e entendida, devolvendo a esperança de uma solução e a percepção de que ela possui o poder de se libertar desse cárcere mental,”.

Vítimas de abusos físicos e psicológicos frequentemente perdem a autoestima e passam a acreditar que são incapazes de viver uma vida plena longe do companheiro agressor. A escuta qualificada se torna uma ferramenta essencial nesse contexto, oferecendo um apoio imprescindível às vítimas.

Em um ambiente de opressão, muitas mulheres não conseguem se afastar dos agressores, que utilizam diversas táticas para mantê-las sob controle. Quando percebem que estão perdendo domínio, esses homens se tornam violentos e recorrem à força física e às ameaças.

Para quem vive sob o regime do medo, a violência doméstica é um ciclo destrutivo que afeta sua autoestima e autonomia. Além da violência física, muitas sofrem violência patrimonial, onde os agressores controlam suas finanças, deixando-as sem recursos para seu próprio cuidado. Amanda reforça que a escuta qualificada é fundamental para devolver a essas mulheres a esperança e a força necessárias para romper com o relacionamento abusivo.

A escuta qualificada permite que profissionais identifiquem sinais de perigo iminente. Em muitos casos, as vítimas podem não perceber a gravidade da situação ou ter normalizado a violência devido ao abuso contínuo. “Um ouvinte qualificado pode detectar sinais sutis da escalada da violência e intervir antes que a situação se torne fatal,”. Amanda ressalta que a normalização dessa violência pode estar relacionada a um histórico familiar de abusos ou a relações disfuncionais na infância, que fazem com que as vítimas encarem a rotina tóxica como algo natural.

Além de oferecer um espaço seguro para a vítima se expressar, a escuta qualificada é essencial para fornecer orientações e encaminhamentos adequados. Profissionais treinados podem oferecer informações sobre recursos legais, abrigos e apoio psicológico, ajudando a vítima a tomar decisões informadas. “O profissional deve transmitir segurança à vítima, mostrando que ela está segura e pode confiar tanto nele quanto nas autoridades competentes,” enfatiza Amanda.

Buscar ajuda frequentemente leva a vítima a reviver o trauma ao relatar suas experiências repetidamente. A psicanalista reforça que “a escuta qualificada, sendo uma abordagem centrada e respeitosa, minimiza essa revitimização, assegurando que a vítima não precise contar sua história diversas vezes. Reviver o trauma pode piorar o estado emocional dessa mulher, por isso, a humanização no acolhimento é essencial.”.

A escuta qualificada também permite que profissionais eduquem a vítima sobre os ciclos de abuso e a relação de poder na violência doméstica. “Compreender essas dinâmicas é crucial para que a vítima possa reconhecer os padrões de abuso e, eventualmente, escapar dessa situação. Para que a escuta qualificada seja eficaz, a vítima precisa se sentir acolhida, compreendida e segura,” esclarece Amanda.

Com oito anos de experiência em escuta qualificada, Amanda Souza afirma que essa prática não é apenas uma técnica, mas uma ferramenta de transformação social. “Ela capacita as vítimas, protege suas vidas e contribui para uma sociedade mais justa e segura. Em um cenário onde mais de 48 mil mulheres foram assassinadas em uma década, investir em práticas que promovam a escuta ativa e empática é urgente e indispensável para mudar esse cenário de tragédia.”


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KARINA DA SILVA SOUZA PINTO
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