03/07/2024 às 12h07min - Atualizada em 05/07/2024 às 04h10min

O racismo estrutural e o mercado de trabalho: um desafio contínuo. 

Tatiane Brazilio* 

VALQUIRIA MARCHIORI
Rodrigo Leal

O Brasil tem uma história de mais de 300 anos de escravidão, sendo o último país das Américas a abolir essa prática em 1888. Mesmo após mais de um século, os efeitos desse período ainda são visíveis na sociedade, prejudicando a população negra e dificultando seu acesso pleno à cidadania. 

O Racismo Estrutural ocorre quando atitudes, comportamentos e pensamentos racistas estão tão enraizados na sociedade, sendo normalizados por grupos hegemônicos e, muitas vezes, reproduzido por suas vítimas. Isso afeta diariamente a vida dos negros, desde piadas ofensivas até ações baseadas em estereótipos que reforçam a discriminação. 

No mercado de trabalho, essa discriminação aparece de várias formas: na dificuldade de conseguir emprego, na falta de promoções e nos salários mais baixos para as pessoas negras. Segundo dados do IBGE, pessoas negras ganham em média 39,2% menos que pessoas brancas em posições equivalentes. Esses problemas criam um ambiente de trabalho hostil, aumentando o estresse e a insatisfação dos trabalhadores negros, o que pode prejudicar seu desempenho. 

Empresas que não criam programas antirracistas enfrentam dificuldades em contratar talentos de diferentes origens, o que afeta a diversidade e a competitividade. A pesquisa da McKinsey "A diversidade como alavanca de performance" destaca que empresas com maior diversidade étnico-racial têm 36% mais chances de obter retornos financeiros acima da média do seu setor. Além disso, organizações no quartil superior de diversidade étnico-racial são 25% mais propensas a ter lucratividade acima da média nacional em suas respectivas indústrias. Isso ressalta a importância não apenas de criar programas antirracistas, mas também de promover uma cultura inclusiva que permita o pleno desenvolvimento e crescimento profissional de todos os colaboradores, independentemente de sua origem. Além disso, a falta de inclusão impede que esses profissionais tenham acesso a oportunidades de crescimentos.  

Como reação adversa a essas práticas, diversas respostas são despertadas como a percepção de que a desigualdade é acentuada, perdem-se direitos adquiridos, ou mesmo que não há na população da região de atuação grandes segmentos de pretos e pardos. Reações obviamente sedimentadas na reprodução do cenário de desigualdade atual, pois basta abrir os olhos e virar para os lados, refletindo se a quantidade de negros é próxima da que consta no último censo da região, ou ainda quais os cargos ocupados, ou em que base os pseudodireitos de hegemonias foram conquistados e de outros sujeitos silenciados.  

A liderança nas empresas tem um papel crucial na promoção da diversidade. No entanto, no Brasil, menos de 3% dos cargos de direção são ocupados por negros, conforme pesquisa realizada pelo Instituto Ethos e o estudo "Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil", realizado pelo IBGE. As empresas precisam garantir que seus líderes representem a diversidade da sociedade, tornando suas decisões mais inclusivas. 

Para combater o preconceito, é essencial que as empresas adotem práticas inclusivas de contratação e seleção, como divulgar vagas em canais diversos e usar técnicas de seleção baseadas em competências. Além disso, treinamentos sobre a importância da diversidade são cruciais para conscientizar todos os funcionários. 

Medir e avaliar a diversidade no local de trabalho é fundamental para entender o progresso e identificar áreas que precisam de mais atenção. Análises de dados demográficos e pesquisas de clima organizacional são algumas formas de monitorar isso. Ainda que haja o aumento de negros nas universidades, eles ainda são minoria em cargos de liderança. Para mudar essa situação, é necessário criar oportunidades reais de desenvolvimento profissional.  

Promover a inclusão racial no mercado de trabalho é um desafio contínuo que exige mudanças nas atitudes, nas estruturas e nas estratégias organizacionais e de ações afirmativas em políticas educacionais. Qualificar os profissionais negros e as equipes de trabalho é fundamental para criar um ambiente laboral inclusivo e justo, em que todos tenham oportunidades de sucesso e reconhecimento com equidade. Conscientização e cobrar ações efetivas são passos essenciais para essa mudança, é preciso ter uma postura antirracista para que equipes diversas saiam do papel ou dos discursos digitais. 

* Tatiane Brazilio, especialista em MBA em Desenvolvimento Humano para Estratégia e Inovação e professora nos cursos de pós-graduação em Recursos Humanos do Centro Universitário Internacional Uninter. 


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VALQUIRIA CRISTINA DA SILVA
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