28/06/2024 às 12h36min - Atualizada em 29/06/2024 às 00h01min

Riscos Irreversíveis: Crônica de uma Morte Anunciada

Empreendedorismo; Economia

EDUARDO MICHELETTO
Divulgação
Nos últimos meses, fomos impactados por notícias de diversas empresas solicitando recuperação judicial. De acordo com a Serasa Experian, até abril deste ano, houve um aumento de 80% nos pedidos em comparação ao mesmo período de 2023. O problema é ainda mais grave para pequenas e médias empresas, que representaram 95% dos requerimentos de recuperações nos últimos 12 meses. Se grandes marcas, com profissionais qualificados e resultados positivos por décadas, faliram, a nossa curiosidade é de entender e ajudar a explicar como isso aconteceu?

Neste artigo, abordaremos os Riscos Irreversíveis, e os elementos que levam a ele. Identificando os verdadeiros culpados, entendendo em que fase é possível conter o problema e, o mais importante, ajudar empresários a evitar esse cenário preventivamente, independentemente do tamanho da empresa.

Ao longo dos anos, na RG5, acompanhamos e ajudamos empresários em situações críticas. Analisando o que levou essas empresas a esse ponto, percebemos que a recorrência e similaridade de alguns comportamentos as colocaram em situações sem saída. Com base em nossa experiência, identificamos os principais elementos que você pode evitar para que seu negócio não entre em recuperação judicial ou falência.

Resumimos o desafio em três etapas: entendimento, identificação e solução, para evitar que a sua empresa se coloque nessa situação ou consiga sair dela.

Entendimento dos Motivos e Estágios do Declínio

Para entender os riscos irreversíveis que levam uma empresa à recuperação judicial ou à falência, precisamos examinar os motivos e os estágios do declínio empresarial.

“O sucesso prolongado corrompe a percepção de risco”. Empresas que experimentam sucesso consistente podem desenvolver uma falsa sensação de segurança. Esse sucesso pode levar a uma mentalidade de “acertei uma, duas, três vezes, com certeza peguei o jeito”. Essa confiança excessiva faz com que a liderança acredite que dominou completamente os dilemas de determinado mercado, ignorando sinais de alerta e subestimando novos desafios.

Neste caso notamos recorrentemente que a confiança pode resultar em investimentos imprudentes. Com a percepção de que “peguei o jeito, agora vou investir de verdade”, a empresa começa a fazer investimentos significativos sem uma análise adequada dos riscos. Isso pode incluir expansão rápida, diversificação de produtos sem pesquisa de mercado adequada, compra de equipamentos, entrada em novos mercados sem preparação suficiente, ou até a aquisição de participação societária.

O terceiro ponto identificado é a ausência de mecanismos de contenção ou um “STOP”. É sempre prudente, ao começar um novo projeto, fazer uma avaliação criteriosa das expectativas e iniciativas para implementação organizada dos planos de ação. Porém, raramente vemos a definição de pontos de checagem e validação, a falta de paradas estratégicas para reavaliar e ajustar o curso pode levar a um acúmulo de problemas.

Eventualmente, esses problemas se tornam grandes demais para serem resolvidos. Quando os sinais de crise são ignorados por muito tempo, a situação pode se agravar a ponto de se tornar insolúvel. A empresa se encontra, então, em um ponto onde as soluções convencionais não são mais viáveis e a recuperação judicial ou turnaround parecem as únicas saídas.

Identificação dos Sinais de Alerta

Para evitar o caminho acima, é essencial saber como identificar se sua empresa está em risco. Os sinais podem ser qualitativos e quantitativos.

Indicadores Qualitativos: 7 Pontos de Atenção nas Empresas

Problemas são sempre externos: Quando a empresa constantemente culpa fatores externos pelos seus problemas, em vez de entender o cenário e desenvolver alternativas para melhorá-lo, isso indica uma falta de autocrítica e uma incapacidade de resolver questões internas. Imagine que já ouvimos que de uma empresa de varejo de acessórios para público A e B, não estava vendendo por conta da eleição do Trump nos Estados Unidos, bem enfaticamente!

Validação interna: Busca constante do líder ou dono, por validação do seu ponto de vista, procurando pessoas usualmente abaixo dele, que confirmem suas crenças (pense no conflito de interesse), ignorando e às vezes penalizando opiniões contrárias, criando um ambiente de pensamento homogêneo que dificulta ou até bloqueia a identificação de riscos e a criação de soluções inovadoras.

Postura reativa frente a projetos de melhorias: Usualmente nestas situações líderes tendem a negar a crise e os projetos de melhorias, usando frases do tipo “já tentei isso”, “isso não funcionou no passado”, “todo mundo fala isso, mas nunca deu certo”, “eu já falei para fazer isso, mas ninguém quer”, “é muito difícil”, “vamos fazer isso outra hora”, “estamos cheios de problemas agora”, “não temos braços para isso” e similares. Nestes casos, em vez de postura proativa, o líder apresenta uma postura reativa frente a mudança, que por sua vez sugere que a empresa está constantemente apagando incêndios ao invés de planejar estrategicamente e implementar iniciativas transformacionais.

Inversão de valores: É talvez o problema mais avançado que encontramos em empresários, quando a empresa começa a servir mais aos interesses dos donos do que dos clientes, distorcendo o seu objetivo colocando o dono a frente de funcionários e clientes, situação em que se perde o foco no que realmente importa — a satisfação e a lealdade dos consumidores.

Busca excessiva por manobras fiscais: É comum entrar em empresas e se deparar com donos que acreditam que o problema está na “jogada fiscal” que ele ainda não encontrou e que por isso não tem os resultados desejados. Nestes casos, focar mais em alterações fiscais do que em criar um diferencial competitivo mostra uma visão de curto prazo, negligenciando a importância de construir um valor sustentável e um bom posicionamento de mercado.

Distanciamento dos líderes: Nos livros e vídeos da internet os empreendedores e empresários parecem incansáveis, mas na realidade não é bem assim, em situações como essas que chamamos de riscos irreversíveis, encontramos desanimo e inatividade em cenários de crise, que usualmente se materializam focando e situações singelas da empresa e pouco relevantes para o contexto. Quando os líderes se afastam das operações diárias, eles perdem o contato com o que é realmente importante para os clientes e para o funcionamento da empresa. Esse distanciamento pode levar a decisões desinformadas e desconexas da realidade do negócio.

Desinteresse pelo cenário atual: Observamos que os riscos irreversíveis muitas vezes seguem um padrão de desenvolvimento, iniciando lentamente e tendo uma aceleração muito rápida. É comum que empresas passem anos em um cenário ruim, sem tomar as medidas adequadas, e enfrentando a crise dos riscos irreversíveis em poucos meses. Esse período prolongado de desatenção e falta de engajamento com o tema da crise, a ausência de reuniões de resultados significativas e a negligência nas iniciativas de melhoria são indicadores preocupantes, isso demonstra uma incapacidade de adaptação e inovação, que são essenciais para a sobrevivência e o crescimento em um ambiente competitivo. Sem uma abordagem proativa e uma resposta rápida às mudanças do mercado, a empresa se torna vulnerável aos riscos que se acumulam silenciosamente e depois explodem de forma abrupta e devastadora.

Indicadores Quantitativos: 4 Pontos que Precisam ser Analisados nos Negócios

Metas não são atingidas: Um dos lugares mais fáceis de observar essa situação é no orçamento, afinal quantas vezes encontramos o orçamento sendo abandonado em menos de seis meses, pois os números ficaram irreais. A falha recorrente em alcançar metas estabelecidas é um sinal claro de que algo está errado na estratégia ou na execução dos planos da empresa.

Queda constante na quantidade comercializada: É razoavelmente comum encontrar aumento de receita em empresas em crise, porém uma análise mais profunda sugere que esse efeito acontece por aumento de preço e ao invés da quantidade. No longo prazo, uma diminuição contínua nos volumes de vendas ou nos serviços prestados indica uma perda de mercado, ou de interesse do cliente, o que é um sinal alarmante em termos estratégicos.

Queda do NPS (Net Promoter Score): A redução na satisfação dos clientes ou estabilidade em patamares baixos, medida pelo NPS, revela que os clientes estão insatisfeitos e menos propensos a recomendar a empresa, afetando diretamente a reputação e o crescimento.

Custos fixos subindo e margem em queda: A dificuldade da empresa de manter margens pode estar relacionada ao desafio de sustentar valor para os seus clientes, enquanto o aumento dos custos operacionais apresenta a dificuldade da empresa gerir diligentemente seus custos, por vezes relacionados a fragilidade dos processos e tecnologia. Combinados, esses dois efeitos apresentam uma pressão sobre a rentabilidade, podendo rapidamente se tornar insustentável a manutenção da saúde da empresa.

Solução

Para mitigar esses riscos e evitar o turnaround ou a recuperação judicial, é necessário adotar uma abordagem estratégica e proativa frente a crise. É fundamental criar um ambiente onde os colaboradores se sintam seguros para expressar suas preocupações e ideias. Montar equipes e comitês com diversas habilidades e perspectivas ajuda a abordar os problemas de forma holística, diligente e eficaz. Instituir um conselho interno que forneça orientação estratégica e supervisão para questões críticas, também pode trazer uma visão mais clara e objetiva… E, finalmente, manter o foco nos resultados e não permitir que justificativas interfiram na tomada de decisões é crucial.

A liberdade para a equipe falar é essencial para criar um ambiente de transparência e inovação. Um time multidisciplinar traz diversas perspectivas, o que é vital para identificar e resolver problemas complexos. A visão interna, fornecida por um conselho, oferece uma supervisão estratégica que pode ajudar a alinhar as ações com os objetivos de longo prazo da empresa.

A criação de comitês específicos para problemas críticos permite uma abordagem focada e eficaz para resolver questões emergenciais. O foco no resultado, e não em desculpas, garante que a empresa se mantenha responsável e orientada para a ação.

Ao entender e identificar os riscos irreversíveis, e implementar soluções eficazes, as empresas podem se proteger contra o declínio e garantir um futuro sustentável e próspero. A capacidade de adaptação, inovação e gestão proativa quando identificados os riscos é essencial para a sobrevivência e o crescimento em um ambiente de negócios cada vez mais desafiador.

Assim como no célebre romance “Crônica de uma Morte Anunciada”, de Gabriel García Márquez, onde a trama se concentra não no assassinato em si, mas nos eventos e decisões que o tornaram inevitável, os Riscos Irreversíveis representam escolhas que gradualmente conduzem as empresas ao fracasso. Eles são como uma sentença de morte anunciada para os negócios.

Na RG5, temos o orgulho de ter auxiliado mais de 250 clientes, recuperado muitas empresas que nos procuraram quando perceberam os riscos e a distância dos resultados desejados. No entanto, lamentavelmente, muitas outras empresas estão atualmente no caminho da recuperação judicial. Independentemente da magnitude do desafio, nossa experiência nos capacita a reverter o cenário de desespero em resultados positivos e seguros em um período de seis meses a um ano de assistência especializada.

Devemos deixar as histórias de morte anunciada para os contos e livros e, ao invés disso, concentrar nossos esforços em evitar que essa tragédia empresarial se abata sobre nossas próprias organizações. Isso é possível ao conhecer e evitar os Riscos Irreversíveis que podem levar uma empresa ao declínio.

Gustavo Spinola - Sócio-fundador da RG5

Mestre em administração de empresas pelo Insper, pós-graduado em finanças e graduado em economia com especialização em negociação, business model e turnaround e recuperação judicial. Com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro na área de avaliação de empresas, em private equity com foco no mercado imobiliário e como consultor de gestão financeira com ênfase turnaround, melhoria de performance e gestão interina ocupando cargos de CFO, CRO e Conselheiro.
 

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EDUARDO GIOELI MICHELETTO JOEL
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