22/04/2024 às 12h26min - Atualizada em 23/04/2024 às 00h02min

Pinhão: entre a tradição e a conservação da natureza 

Otacílio Lopes de Souza da Paz (*) 

Valquiria Cristina da Silva Marchiori
Rodrigo Leal

Chegando o outono, com a queda das temperaturas, surge aquela vontade dos sabores típicos dessa época, entre eles, o pinhão. Essa semente, profundamente ligada à cultura do sul do Brasil, torna-se protagonista em celebrações familiares e comunitárias em diversas cidades. São comuns nessa época, as feirinhas e festas que também celebram outras tradições típicas da estação. No entanto, para mantermos viva essa rica herança cultural, é fundamental que a apreciação do pinhão ande lado a lado com a conservação da natureza. 

A degradação histórica da araucária, árvore produtora dos pinhões e um símbolo cultural da região Sul do Brasil, explica a regulamentação em torno de sua exploração. Desde o início da ocupação do território, essa espécie foi explorada até alcançar um alarmante estado de perigo. A União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), atualmente, classifica a araucária como estando em Perigo Crítico de Extinção. Este status, não apenas reflete o grave risco que a árvore enfrenta, mas também destaca a urgência de adotar medidas de proteção efetivas para garantir sua sobrevivência e a continuidade da rica tradição cultural associada ao pinhão. 

Por isso, existe uma época específica do ano em que podemos consumir o pinhão. Em 2024, no Paraná, o Instituto Água e Terra (IAT) liberou a colheita, armazenamento e comercialização do pinhão a partir de 01 de abril. Isso vale somente para os pinhões já maduros, sendo esse um cuidado para a saúde dos consumidores e também para contribuir com o ciclo reprodutivo da espécie. Em caso de descumprimento dessa regra, é aplicado uma multa de R$ 300 a cada 50 quilos apreendidos, sendo enquadrado como um crime ambiental.  

À primeira vista, essa norma pode parecer um empecilho ao consumo do pinhão. Mas é justamente o contrário:ter esse momento específico para consumo garante que ele seja apreciado em sua melhor qualidade, respeitando o ciclo natural da araucária e promovendo a regeneração da espécie. Essa regra ajuda a garantir que vamos continuar a consumir pinhão e repassar essa rica tradição aos nossos filhos e netos, conciliando cultura, fonte de renda e a conservação da natureza.  

Nesse cenário, uma orientação é importante: recomenda-se comprar os pinhões em locais que assegurem sua origem legal e sustentável. Isso não apenas apoia a economia local, mas também incentiva o uso sustentável das florestas de araucária. Outra recomendação é compartilhar com amigos e familiares os motivos para o consumo do pinhão em determinadas épocas, contribuindo assim, para a disseminação de informações.  

A sazonalidade do pinhão nos lembra da necessidade de vivermos em harmonia com os ciclos da natureza, respeitando os tempos de crescimento e reprodução das espécies que nos fornecem alimentos. Entender esses ciclos e conviver com eles, nos ajuda a se reconectar com o meio ambiente de maneira sustentável, contribuindo em práticas que preservam a biodiversidade local. Assim, a cada outono, vamos conseguir manter nossos costumes, protegendo assim, também, nossa identidade cultural.   

*Otacílio Lopes de Souza da Paz, é geógrafo e Doutor em Geografia. Professor da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional UNINTER.  


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://novojorbras.com.br/.
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp