Por Jullie Pereira
Até 7 de março, foram 93 comunidades indígenas atingidas pelas enchentes, que alagaram roçados e casas e afetaram 5,4 mil pessoas de oito povos diferentes, entre eles os Kaxarari, Huni Kui, Manchineri e Jaminawa.
Além das famílias indígenas atingidas, o Acre tinha, até esta terça-feira (12), 10,7 mil pessoas desabrigadas em 15 de seus 22 municípios. O rio Acre, na altura da capital Rio Branco, estava medindo 12,28 m e seguia ritmo de descida. Foram 120 mil acrianos atingidos, independentemente de terem ficado desabrigados ou não. De acordo com o governo estadual, é o maior desastre ambiental do estado, isso porque 86% dos municípios foram impactados.
‘Minha aldeia está desmoronando’
Josimar Matos, indígena do povo Huni Kui, da Terra Indígena (TI) Katukina/Kaxinawá, conta que as cinco comunidades do território perderam plantações de macaxeira, banana, mamão, milho e amendoim. Ele vive em uma delas, a Boa União, que está cercada pela água e lama.
“A minha aldeia está desmoronando, depois da alagação estamos tendo um desmoronamento, além da perda do legume, do roçado, além da invasão da água nas casas. Agora, estamos perdendo a nossa aldeia, é uma situação muito complicada”, disse Matos em entrevista à InfoAmazonia.
Em vídeo enviado à reportagem, Josimar mostra um bananal alagado. Em outro, uma roça de macaxeira está embaixo d’água. Ele assinou uma carta, compartilhada em grupos de mensagens online, pedindo kits de alimentos e higiene para 150 famílias que foram prejudicadas com a perda das plantações. “É um desespero para nós, uma tristeza, ver as nossas possibilidades de carência e produção que a gente planta e a natureza vem pra destruir. Podem ver como está a situação da água”, diz.
A Terra Indígena Katukina/Kaxinawá é o território de cerca de 2 mil pessoas dos povos Huni Kuin e Shanenawa. A TI é homologada desde 1991 e a população sobrevive principalmente da agricultura e extrativismo. A área é banhada pelo rio Envira, que está na Bacia Tarauacá-Envira e também foi afetada pela enchente, e tem um limite de 14 m até transbordar — na primeira semana de março, a cota quase ultrapassou essa marca, chegando a 13,51 m. Nesta terça-feira, com a redução das chuvas, o índice já baixou para 8,32 m.
A indígena Benícia Huni Kuin, moradora da comunidade Boa União, contou que um bananal destruído pode levar até dois anos para ser replantado. Em vídeo, ela aparece com o rio na altura dos tornozelos e pede por doações de água tratada. “Por isso, a gente está fazendo esse vídeo, pra vocês verem como a gente está sendo afetado e vocês nos ajudarem (…) pra ajudar na água, porque a gente está sem água agora, a gente não está tendo água para beber”, diz.
Além do impacto nas roças, novos problemas surgem com a descida dos rios após a enchente, como a falta de água limpa para banho, a dificuldade de obter itens básicos de higiene e a de fazer locomoção de galões de água. De acordo com dados do Ministério da Saúde, são 5,8 mil pessoas sem infraestrutura de abastecimento de água no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Alto Purus, em que a TI está inclusa.
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Crédito: InfoAmazonia.