Responsável pela proteção de diversos atributos naturais, recursos hídricos e um importante patrimônio espeleológico, a Área de Proteção Ambiental (APA) Nascentes do Rio Vermelho, com sede em Mambaí (GO), recebeu no final de março a “Oficina de Boas Práticas no manejo de morcegos para agentes de controle agropecuário de zoonoses”. A atividade tem como intuito compartilhar informações sobre a conservação de morcegos, além de melhores práticas de identificação e manejo desses animais.
De acordo com o professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Enrico Bernard, “na oficina, foram apresentados dados mais atuais sobre morcegos hematófagos, sobre o que se sabe do papel dos morcegos na pandemia da Covid-19, além dos importantes serviços de supressão de pragas agrícolas prestados pelos animais, incluindo casos onde este serviço foi valorado, e sobre a necessidade de conservação de várias espécies, como aquelas ameaçadas de extinção no Brasil”.
Enrico explica que os morcegos prestam importantes e valiosos serviços de polinização, dispersão de sementes e controle de populações de insetos, incluindo a supressão de várias pragas agrícolas. “Os benefícios proporcionados por esses serviços superam em muito os eventuais prejuízos trazidos por um número muito reduzido de morcegos eventualmente doentes”, afirmou.
Essa foi a segunda oficina de uma série de três, que foi iniciada no ano passado, em Minas Gerais. A iniciativa, segundo Enrico Bernard, tem sido bem avaliada pelos participantes. “Nós temos observado que os agentes de controle agropecuário que lidam com a questão dos morcegos, seja em Minas Gerais ou Goiás, estão abertos e receptivos às informações mais atuais e corretas sobre os morcegos, sobre os serviços de ecossistema que eles prestam, sobre o papel que estes animais podem ter como vetores de doenças, e especialmente sobre a importância da conservação deste grupo”, disse o professor.
Transmissão de raiva pelo ataque de morcegos é um caso raro
Segundo o analista ambiental do Núcleo de Gestão Integrada de Mambaí (ICMBio/Mambaí), Raoni Merisse, “poucas pessoas sabem que de centenas de espécies de morcegos no mundo, apenas três são hematófagas, e destas, apenas uma é comum na região. Do mesmo modo, poucas pessoas têm conhecimento que a transmissão de raiva pelo ataque de morcego é um evento raro, passível de prevenção e monitoramento, e que o abate dos morcegos e uso da pasta vampiricida (produto utilizado para controle de morcegos hematófagos) só devem ser realizados como último recurso e devidamente orientado por profissionais, sob pena inclusive de agravar o risco de ataques e transmissão da doença, ao invés de reduzi-lo”.
PAN Cavernas do Brasil
A “Oficina de Boas Práticas no manejo de morcegos para agentes de controle agropecuário de zoonoses”. é uma das atividades previstas no Plano de Ação Nacional para Conservação do Patrimônio Espeleológico Brasileiro (PAN Cavernas do Brasil). O PAN possui 44 ações, que são distribuídas em quatro objetivos específicos, visando cumprir o objetivo geral: prevenir, reduzir e mitigar os impactos e danos antrópicos sobre o patrimônio espeleológico brasileiro, espécies e ambientes associados, em cinco anos. Além disso, contempla 169 táxons nacionalmente ameaçados de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, prazo de execução, formas de implementação, supervisão e revisão.